Odorico Paraguassu ainda não havia se conformado com a Reforma Tributária, porque considerava que iria prejudicar Sucupira. Por isso precisava demonstrar para o Governador porque não concordava com as mudanças e não iria concordar com a implementação em sua cidade. Aproveitando sua ida à Capital para cuidar de interesses do município, decidiu consultar um grande matemático, para fazer os cálculos de ganhos e perdas para Sucupira no caso de aprovação dessa RT, inclusive no tocante à passagem da origem, que ele fabricava a cachaça, mas o imposto ia para o destino, o consumidor no exterior. Queria saber se a transferência para o destino, que se completaria em 2077, e as retenção dos 5% até 2097, porque, dizia ele, se haverá perda no curto prazo, o mais provável é que essas perdas continuem até o final do processo.
Com o apoio do Coronel Bentinho, conseguiu marcar uma reunião com o Professor Pythagoras, que, segundo o Coronel era um gênio em Matemática, e que agora estava se especializando em Inteligência Artificial.
Depois das apresentações, Odorico, para quebrar o gelo, perguntou sobre a IA. Vocês vão implantar inteligência artificial nos homens lá em Brasília?
Pythagoras, que apesar da idade bastante avançada era bastante paciente, explicou que a IA não era um “chips” para se implantar em alguém. Era um enorme Banco de Dados de tudo que foi publicado no mundo, como uma enorme Biblioteca, mas que com o computador você podia conseguir as informações nela contida em poucos segundos. Disse ainda, que estava estudando especialmente a utilização da IA no serviço público, o que ia aumentar muito a eficiência e reduzir custos.
Dirceu Borboleta, que havia acompanhado o Prefeito com as anotações da reunião com os técnicos de Brasília e anotado tudo, arriscou perguntar se o Concurso recente para o funcionalismo já previa isso.
O Professor respondeu que não, que ao invés de fazer a Reforma Administrativa primeiro, para depois ver as novas necessidades, inverteram a ordem. Disse ainda que com a informatização inteligente da máquina pública iria necessitar de menos gente, mas com melhor qualificação.
Odorico aproveitou a deixa para dizer que não iria implantar IA em Sucupira porque teria que demitir Dirceu Borboleta, e isso iria magoar a mais nova das irmãs Cajazeiras.
Emendou pedindo a seu auxiliar que expusesse ao Professor qual era o cálculo que queriam que fizesse sobre o impacto da RT em Sucupira até o final do processo,
Depois de examinar todos os dados o Professor Pythagoras disse que isso é um “Sistema Complexo”. É um caso de “não linearidade”. E explicou que pequenas mudanças nas condições iniciais provocam efeitos desproporcionais, que se sucedem. É o chamado “CAOS”.
Odorico interrompeu para dizer que sempre achou que essa Reforma Tributária era muito complexa e que iria provocar o caos, e que, ao invés de simplificar ia complicar ainda mais. De qualquer forma, perguntou ele, é possível calcular seus impactos até 2077 e 2097?
Pythagoras, com paciência surpreendente, falou que não estava avaliando a RT porque não tinha maiores informações, e que ao falar no caos, se referia à “Teoria do Caos” que mostra que em “sistema não lineares”, a relação entre causa e efeito não é proporcional, o que leva a comportamentos complexos e imprevisíveis”.
Percebendo que os dois interlocutores não haviam entendido, procurou explicar de forma mais simples. “Pequenas mudanças nas condições iniciais podem levar a grandes diferenças nos resultados finais, tornando a previsão de longo prazo extremamente difícil”. Isto é, uma mudança nas regras de tributação, provoca mudança no comportamento das empresas, que, por sua vez acarreta mudanças no comportamento dos consumidores, que por sua vez, provoca mudanças nos fabricantes e assim vai alterando todo quadro inicial. Entendeu?
Odorico, sem muita convicção disse que sim, e perguntou: Então não dá para calcular o que eu queria?
Não é que não dê para calcular, embora no longo prazo os resultados não sejam exatos, mas, no caso, não dá para calcular nada, porque, para isso, precisaria conhecer com precisão e detalhes, as condições iniciais, que seriam o ponto de partida para os cálculos. Ninguém conhece os dados precisos da situação atual e, menos ainda, as interações que ocorrerão com as novas regras. As projeções que existem são todas baseadas em estimativas precárias, ou hipóteses não verificáveis.
Acrescentou que o melhor a fazer seria mobilizar estados e municípios, para cobrar que o Governo apresentasse projeções confiáveis sobre ganhos e perdas, antes da aprovação.
Depois de agradecer e se despedir, ao sair, viu do outro lado da rua uma placa: Mago Merlin, mestre em ciências ocultas e esotéricas. Lemos o passado, o presente e o futuro.
Dirceu, acho que talvez pudéssemos consultá-lo. Vamos entrar. Entraram e explicaram tudo ao Mestre, mas ele pediu apenas as datas.
Quando falaram 2033, 2077 e 2097, o Mestre disse a eles que era impossível prever o futuro até 2097, mas que o Prefeito não precisava se preocupar porque ele não iria estar lá em 2033 para ver o resultado.
Odorico saiu apavorado deixando Dirceu Borboleta para trás para pagar, e quando seu auxiliar o alcançou, disse que não acreditava nesses adivinhos, mas, de qualquer forma já decidira. Sucupira não vai entrar na Reforma Tributária.
Crédito imagem: Wellcome Library, London
Licença: Creative Commons/CC BY 4.0
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