top of page

Delfim Neto - Meu professor e amigo

Foto do escritor: Marcel SolimeoMarcel Solimeo

Não poderia deixar de registrar meu sentimento de pesar com a perda de um grande amigo, Antônio Delfim Neto. Conheci Delfim como meu professor na Faculdade de Economia da USP, onde ele era considerado um dos mais brilhantes pela carreira como: aluno, assistente, depois professor, em seguida catedrático e por fim, emérito. Ao começar a trabalhar na ACSP tive a grata surpresa de o encontrar como economista do Instituto de Economia, embora não desse expediente integral, apenas parcial.


Dele recebi muitas aulas sobre a realidade da economia do país, e diversas indicações de vários livros que ajudaram na minha formação. Além disso, quando precisava opinar sobre algum assunto, pesquisava para ver se havia algum parecer do Delfim nos arquivos do Instituto. Sempre alegre e atencioso, brincalhão com o bibliotecário do departamento, muito ajudou na reorganização do Conselho Técnico do Instituto de Economia ao indicar vários de seus jovens colabores, como Afonso Celso Pastore, Carlos Rocca, Pedro Cipollari, Ykeda, além de participar assiduamente e outros, que não apenas participavam das reuniões mensais, como produziram trabalhos relevantes sobre temas que preocupavam o país na época, muitos dos quais ainda persistem.


Quando passou a exercer cargos públicos a começar pela Secretaria da Fazenda do Estado de São Paulo, depois o Ministério da Fazenda e outros Ministérios continuou a ser atencioso como sempre nas diversas oportunidades em que estive com ele, especialmente no Ministério da Fazenda e, mesmo depois quando foi para o Congresso.


Sempre solícito com a entidade atendeu a inúmeros convites para eventos, sendo o último, que não me saí da memória, em setembro de 2013, quando completei 50 anos como economista da ACSP. Começou sua saudação dizendo: “O Marcel nunca trabalhou”. Depois do suspense, concluiu: “Pois quem faz o que gosta, não é trabalho”, e completou: “Não foi ele que escolheu a economia, mas a economia que o escolheu”.


Depois, tivemos mais alguns contatos em alguns eventos e, quando fui no evento de inauguração da Ala da Biblioteca da Faculdade de Economia da USP, que continha o acervo doado por Delfim, me lembrei de um episódio que mostrava o amor dele pelos livros. Tinha na Biblioteca do Instituto, uma coleção encadernada do Journal di Travail publicação francesa do século XVII sobre a legislação e situação do trabalho naquele país, e que estava encaixotada por falta de espaço. Fui autorizado a doar a quem pudesse dar alguma utilização a ela. Liguei ao Delfim e perguntei se ele conhecia alguém que quisesse aquela coleção que ele provavelmente já havia lido muitos dos livros nos seus tempos de Associação e a resposta foi imediata. Conheço: “Eu!”.


Veja quantos metros de prateleira vai precisar, e me dê uns dias para mandar fazer, e depois eu telefono quando for mandar retirar, continuou. Essa coleção se encontra no acervo doado a FEA USP.


Perdi um amigo e o Brasil perdeu não apenas um de seus maiores economistas, mas um cidadão sempre preocupado com seus país. Que Deus lhe reserve um lugar com bastante livros.

 

4 visualizações0 comentário

Posts recentes

Ver tudo

Comments


Receba nossas atualizações

Obrigado pelo envio!

  • Ícone do Facebook Branco
bottom of page