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O MOMENTO AUTORITÁRIO

Foto do escritor: Marcel SolimeoMarcel Solimeo

“Nunca podemos ter a certeza de que a opinião que  procuramos amordaçar seja falsa: e mesmo que a tivéssemos, amordaçá-la, seria, ainda assim, um mal.  (Stuart Mill, Sobre a Liberdade)”

 

Decidi que neste final de semana prolongado não iria me preocupar com Reforma Tributária, “arcabouço fiscal ou 6X1, e descansar lendo outros assuntos. Assim, reli o Sobre a Liberdade, de Stuart Mill, cuja defesa da liberdade de expressão pode ser sintetizada pela frase acima.


Terminada essa leitura decidi ler O Momento Autoritário livro de Bem Shapiro, que estava há alguns meses na estante, à espera de uma oportunidade para sua leitura.


Bem Shapiro, jornalista e escritor de mais de 15 livros, analisa o período pós governo Trump nos Estados Unidos, e procura mostrar “como a esquerda usa as instituições como armas contra a dissidência”, e dedica o livro a seus “filhos, que merecem crescer em um país que valoriza as liberdades prometidas pela Declaração da Independência e garantidas pela Constituição”.


Shapiro afirma que “considerando os poderes institucionais existentes, a América está sob ameaça autoritária e que de acordo com o Partido Democrata, a grande mídia, os jovens de tecnologia das mídias sociais, as celebridades de Hollywood, os chefes corporativos e os professores universitários, (essa ameaça) é clara e vem diretamente da direita política”.


Passa então a analisar a questão da ameaça autoritária a partir do evento de 6 de janeiro. Condena a invasão do Capitólio, e os atos criminosos de desordeiros, mas afirma que “as instituições não foram afetadas, e que muitos Republicanos atuaram na defesa das instituições”.


 “As instituições sobreviveram. Os rebeldes foram amplamente ridicularizados, renegados e processados”.


Afirma ainda que “Trump pode ter tendências autoritárias, mas não exerceu poder autoritário... Na verdade qualquer tendência autoritária pessoal que Trump pode ter, foram contidas ao longo de sua administração pelas instituições”.


Ressalta que “muitos na mídia classificaram o dia 6 de janeiro como 'golpe'”. Para ele, “porém, nunca foi um golpe no sentido adequado, pois isso requer apoio institucional. Certamente, os desordeiros não tiveram apoio institucional”.


Após essa análise, Shapiro demonstra como a esquerda, em suas várias configurações, procurou aproveitar o episódio como oportunidade para defender suas posições políticas, autoritárias, intervencionistas, e outras, “ao caracterizar o 6 de janeiro como “golpe” e a grande ameaça à liberdade”.


Mostra que “imediatamente depois disso, os autoritários de esquerda aproveitaram totalmente a situação para levar adiante a agressão revolucionária, a censura de cima para baixo e a oposição ao convencionalismo, visando não apenas os rebeldes, mas os conservadores e, de forma mais ampla, os direitos individuais”.


Concorda que o “autoritarismo precisa ser detido”, mas coloca uma questão. “E se a ameaça mais perigosa para a América não fossem as várias centenas de conspiradores do mal, tolos e criminosos que invadiram Capitólio? E se a principal ameaça à América estiver em outro lugar?” E continua. “E se, de fato, a ameaça mais premente ao país, residir, precisamente, nos poderes institucionais existentes; nos respeitados centros de jornalismo, nas torres reluzentes da academia, nos escritórios lustrosos das celebridades de Hollywood, nos cubículos do Vale do Silício e nas salas de reuniões dos nosso gigantes corporativos? E se o perigo autoritarismo, na realidade, estiver com os mais poderosos com uma classe dominante, que despreza os valores de metade do país, e com as instituições governadas por eles? E se o crescente autoritarismo dos detentores do poder tenha crescido, sem controle, durante anos?”


“E se o autoritarismo tiver muitas variantes e a variante mais virulenta não for a paranoia e o medo que as vezes se manifesta da direita, mas a autoconfiante virtude moral imerecida da esquerda”. Vamos repetir a pergunta: “se há uma ameaça séria à liberdade de expressão, será que ela vem principalmente der autoritários de direita? Ou vem dos autoritários de esquerda, na mídia, em grandes empresas de tecnologia e no governo?” 


Finaliza essa questão repetindo a pergunta. “Se houver uma ameaça às nossas liberdades básicas, que devemos temer mais: os idiotas em trajes de palhaços invadindo o Capitólio em 6 de janeiro? Donald Trump, um homem que falava como autoritário, mas não governava como tal? Ou os esquerdistas monolíticos, que dominam os escalões superiores de quase todas as instituições poderosas da sociedade americana e que, frequentemente, usam seu poder para silenciar a oposição?"


A VIDA SOB O AUTORITARISMO SOCIAL DA ESQUERDA


Com esse título, Bem Shapiro procura responder às indagações anteriores. Mostra resultados de pesquisa constatando que a maioria dos conservadores não se sentem confiantes, hoje em dia, para dizer o que pensam. Apenas os “progressistas fortes” se sentem confiantes.


“Para o resto de nós, uma sociedade dirigida por autoritários de esquerda é extremamente opressiva. Eles o odeiam porque você pensa de maneira errada”.


Explica a seguir. “Talvez o problema seja que você frequenta a igreja regularmente. Talvez seja porque você deseja administrar sua empresa e ser deixado em paz. Talvez seja porque você deseja criar seus filhos com valores sociais tradicionais. Pode ser que você acredite que homens e mulheres existem, ou que a Polícia geralmente não é racista, ou que as crianças merecem uma mãe e um pai, ou que o trabalho árduo compensa, ou que a bandeira americana representa a liberdade ao invés da opressão, ou que crianças não nascidas não deveriam ser mortas, ou que as pessoas deveriam ser julgadas com base no conteúdo de seu caráter e não na cor de sua pele”.


Shapiro continua mostrar situações em que você pode ser odiado, exemplificando com pessoas de projeção política, econômica, social ou cultural que, consciente ou inconscientemente, desrespeitaram o “manual identitarista ou politicamente correto”, que passam a ser hostilizados, e  perseguidos,  até que se retratem e se enquadrem no “universo moral binário, governado pela casta sacerdotal 'Woke'. O autoritarismo cultural também funciona”.


Para exemplificar, cita o jornalista Jim VandeHei para quem "a América azul (democrata) está em ascensão em quase todas as áreas; conquistou o controle dos três ramos do governo; domina a grande mídia, possui, controla e vive nas plataformas sociais dominantes; e tem o poder no nível dos funcionários em grandes empresas de tecnologia, de forma a forçar decisões corporativas (....) Nosso país está repensando a política, a liberdade de expressão, a definição da verdade e o preço das mentiras. Este  momento-e nossas decisões- serão estudadas pelos netos dos nossos filhos”.


Encerra este capítulo afirmando que “a mídia social controla o fluxo de informações que você pode ver, enquanto o impede de falar o que pensa”.

 

COMO SILENCIAR UMA MAIORIA


Neste capítulo Ben Shapiro descreve a ascensão de Trump ao poder. “Em 8 de janeiro de 2016, uma bombástica astral de televisão tornou-se presidente, apesar de meses de histeria da mídia e de ataques extraordinários à sua campanha e a seu caráter. Ele se tornou presidente apesar das previsões confiantes, de pesquisadores e analistas, de que ele praticamente não tinha chances”. (Nota: o mesmo aconteceu agora na eleição recente, quando toda mídia não apenas se posicionou contra, como errou as previsões)


Shapiro sugere aos elitistas políticos duas escolhas possíveis: “se envolver em alguma introspecção merecida” ou “castigar milhões de americanos como deficientes morais ou intelectuais. Eles escolheram o último”.


Passaram a depreciar os eleitores de Trump como “americanos brancos, pobres, em cidades agonizantes” em uma narrativa conveniente que “aliviou os jornalistas da obrigação de deixarem a zona de conforto, tanto literal, como figurativamente. Também permitiu que jornalistas abandonassem a prática do jornalismo de forma mais ampla. O jornalismo tornou-se uma missão de busca e destruição dirigida não apenas a Trump, como a seus apoiadores. Como se viu, isso não foi uma grande mudança. Republicanos de todos os matizes sempre haviam sido o problema, não apenas Trump”.


Segundo Shapiro, “a própria mídia havia mudado em relação a Trump ao longo dos anos... Um ícone de frivolidade extravagante e charlatanismo divertido... até o momento em que se declarou candidato republicano à presidência”.


Como declarou Trump, “eles o odiavam porque odiavam seus apoiadores”... Os conservadores sentiram o autoritarismo da esquerda. Eles entenderam em um nível instintivo. Eles sentiram a censura de cima para baixo da mídia social que considerou sua fala como “discursos de ódio” e sua visão de mundo “perseguição”.


Na eleição de 2020 “com Trump nas cédulas - o próprio símbolo do mal, das intolerâncias, do racismo, da vulgaridade e da brutalidade, encarnado em 'pele laranja' - os democratas certamente dariam início a uma era de ouro sem fim de dominação e cimentariam os republicanos ao status de minorias por uma geração”.


"Uma semana antes da eleição de 2020, os democratas tinham uma vantagem genérica de quase sete pontos na votação no Congresso. Donald Trump pode ter perdido a eleição, mas os republicanos de todo país não perderam” (...) “Superaram as pesquisas em todas as categorias (...) Algumas pesquisas sugeriram que os republicanos perderiam facilmente o Senado e perderiam uma dúzia de cadeiras na Câmara”.


Apenas perderam o controle no Senado por uma diferença mínima, “por uma intervenção asinina de Trump em duas disputas no Senado (que poderiam ter sido ganhas), ganharam assentos na Câmara e mantiveram seu domínio sobre as legislaturas estaduais e quase mantiveram a Casa Branca”.


Para Shapiro, a vitória de Biden “não era um endosso à agenda democrática. Era muito mais provável que fosse uma rejeição à personalidade de Trump - o que não era uma surpresa, depois de anos de tuítes erráticos, comportamento pessoal bizarro e cobertura extraordinariamente feroz da mídia “.


Os americanos não votaram desafiando as pesquisas porque eram racistas. Esses americanos votaram dessa maneira porque exigem ser ouvidos. Porque eles se recusam a se render à esquerda autoritária com seus facilitadores sociais-democratas”.


Como Kaufman concluiu "se a América não puder reformar seu regime de disciplina do discurso, não há esperança de superar sua enorme divisão cultural”.


E finaliza o capítulo: ”Entretanto, para superar essa enorme divisão cultural devemos primeiro reconhecer o óbvio: nossa divisão é cultural. Não é econômica. Não é racial. É cultural’”.

Este é um resumo da introdução do livro de Ben Shapiro, que nos seus sete capítulos e na conclusão, não apenas analisa o comportamento do que chama de “esquerda autoritária” como, na Conclusão, que se intitula A ESCOLHA DIANTE DE NÓS oferece lições e sugestões para todos aqueles que se preocupam com a liberdade em seu sentido amplo. Vale a pena ser lido.  

  

O livro de Ben Shapiro foi escrito em 2021, antes, portanto, da nova eleição de Trump, mas parece que papel da mídia, a opinião de especialistas, as pesquisas e o comportamento  da imprensa parecem não terem mudado em relação ao que foi descrito.

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