Odorico Paraguassu convoca uma reunião com os empresários de Sucupira para que eles possam ouvir um especialista que, graças ao prestígio do Coronel Bentinho, se deslocou de Brasília para explicar como irá funcionar a Reforma Tributária.
Caros cidadãos e cidadonas de Sucupira, empresários ilustres que tanto contribuem para o desenvolvimento da nossa cidade, do estado e do país. O objetivo desta reunião é ouvirmos o Dr. Tales de Mileto, que estudou matemática em Avard, e que vai explicar em detalhe como a Reforma Tributária vai afetar cada empresa, para que a gente possa decidir se Sucupira vai ou não aderir a essa Reforma.
A ideia é que Dr. Tales vá explicando para cada um, e depois podemos fazer um debate entre nós. Agradeço ao Dr. Tales sua vinda e sugiro que ele aproveite a viagem para desfrutar das belezas naturais e humanas de Sucupira. Agradeço também ao Coronel Bentinho seu empenho para esta reunião e também sua presença, acompanhado de um visitante ilustre, Dr. Alberto Campos, intelectual exponencial que já morou e Brasília e até nos states.
Com a palavra o Dr. Tales que vai explicar primeiro para o seu Joaquim do Armazem, e o Arakihiri do Supermercado como fica o comércio de alimentos.
Dr. Tales explicou que a venda de alimentos tinha várias situações: primeiro a “cesta básica” que não pagava o imposto, chamado de IBS-imposto sobre bens e serviços e a CBS- contribuição sobre bens e serviços. Depois tem outra Cesta que vamos chamar de Cesta B que tem uma redução da alíquota do imposto. Depois tem os outros alimentos que não estão na cesta A nem na B, que pagam o imposto pela alíquota cheia.
Seu Joaquim – Diga-me, Dr., como eu vou separar os produtos no armazém para o freguês saber o preço. Tá muito confuso. Eu não vendo cestas nenhuma. Vendo arroz, feijão, carne, bebida e outras coisas e coloco tudo em sacos de papel. Nada na cesta. Como separar em três montes?
Quatro seu Joaquim. Porque eu ainda não falei, mas tem também o “imposto do pecado” sobre bebidas, cigarros, sucos açucarados e outros. E tem mais uma coisa, o senhor vai ter que colocar na nota fiscal o CPF do consumidor para ele poder receber o “cashback”.
Que raios de quechebeque é esse? Quem paga e quem recebe, pergunta seu Joaquim.
O “cashback” é um mecanismo de justiça social que devolve uma parcela do imposto para os mais pobres. Ao invés de dar isenção, que beneficia mais os ricos, cobra-se imposto de todos, e depois devolve uma parte para os pobres. Infelizmente os ricos venceram e conseguiram incluir a carne na cesta básica, o que é um absurdo.
Me dá licença de um aparte? Todos olham surpresos para o Dr. Alberto Campos, convidado do Coronel Bentinho.
Pois não. Responde Dr. Tales.
O senhor pode me dizer quem são os pobres beneficiados quem são os ricos que não vão pagar imposto sobre a carne e assim ficar mais ricos?
Os pobres são aqueles que tem renda média familiar de ½ salário mínimo, responde Dr. Tales.
Bem, nesse caso devem ser cerca de 25% das famílias e acho muito justo que recebam. Mas se não estou enganado tem uma faixa grande da população que ganha mais de 1/2 até 1 Sálario mínimo, outro tanto com renda média entre 1 e 2 SM e finalmente, um percentual de 2 a 3 salários-mínimos, totalizando milhões de pessoas. Estes não são pobres pelos critérios do cashback. O que eles são? Ricos que não merecem carne na alimentação?
Esse raciocínio ideológico de condenar os ricos, que, no geral financiam os empregos de muitos intelectuais, comprando títulos públicos, investindo em empresas e gerando empregos deveriam ter ao menos o reconhecimento pelo que fizeram. Os que devem ser condenado são os que enriqueceram às custas de conchavos e acordos espúrios com o governo.
Quando o Dr. Tales ia responder, o Coronel Bentinho interveio e sugeriu que essa discussão ficasse para a hora do almoço, porque ainda tinha muita coisa para discutir da Reforma.
Odorico toma a palavra e comenta que agora deveriam ouvir o sr. Arakihiri dos supermercados que estava com os olhos tão esbugalhados que nem o Zeca Diabo quando estava com raiva ficava com os olhos tão abertos como os dele. Sr Arakihiri, eu vi o senhor anotando tudo com essas letras que parecem teia de aranha. O senhor entendeu tudo?
O sr. Arakihiri respondeu que não entendeu nada, mas escreveu tudo e vai levar pros filhos pra ver se eles entendem. Mas queria fazer uma pergunta. Quando começa tudo isso?
Essa é uma boa pergunta. Esse novo sistema não vai começar de uma vez. Tem um período em que vai começar o novo sistema, mas o velho continua. Assim a empresa paga 90% de ICM, ou ISS, e 10% do IBS. No outro ano, 80% e 20%, depois 70% e 30% e depois 60 e 40%. Depois as empresas passam totalmente para o IBS, mas os estados e municípios somente vão estar totalmente no novo sistema em 2077, embora ainda tenham que continuar contribuindo para o fundo de garantia da receita até 2097.
Aí foi um falatório total porque todos perguntavam ao mesmo tempo, ou faziam comentários de que isso era loucura, as empresas terem que conviver com o novo e o velho sistema. Que isso ia gerar uma grande confusão para as empresas fazerem seus preços, porque algumas iriam antecipar os aumentos de imposto de uma vez, outras gradativamente, outras não iam conseguir aumentar nada. Muitos comentando que era uma loucura para governadores e prefeitos administrarem finanças e alguns questionando se não era muita pretensão querer regulamentar um imposto até 2076, como se o mundo não mudasse, a tecnologia não mudasse. Se querer engessar a economia pela via tributária não era muito intervencionismo?
O prefeito Odorico e o Coronel Bentinho tentaram restabelecer a ordem, mas quando viram que não conseguiriam retomar os trabalhos, decidiram suspender a sessão para continuar depois do almoço.
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