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RT EM SUCUPIRA - PARTE 4

Foto do escritor: Marcel SolimeoMarcel Solimeo

Voltando todos do almoço, menos o Coronel Bentinho e seu convidado Dr. Alberto Campos que precisaram voltar para a capital, mais alegres do que de manhã, talvez pelo efeito das caipirinhas e do vatapá de camarão. Enquanto esperavam a chegada do Prefeito Odorico que fora acompanhar os ilustres visitantes até o carro, o Sr. Dirceu Borboleta contou que as conversas entre o palestrante e o Dr. Alberto Campos foram muito tranquilas apesar das discordâncias, e que depois da segunda caipirinha estavam discutindo filosofia e religião e o Dr. Campos afirmou que em matéria de fé ele ficava com Santo Agostinho “crer para ver”, mas em economia e principalmente impostos ele era mais São Tomé, “ver para crer”.


Retomando os trabalhos, Odorico Paraguassu perguntou se alguém teria alguma pergunta sobre o que foi explicado de manhã e, novamente, o seu Joaquim pediu a palavra.


Escutei o Dr. Tales comentando durante o almoço que o sucesso da Reforma dependia de um tal Comitê Digestor que fica em Brasília, e que todas as informações teriam que estar nas Notas Fiscais para ele fazer as contas e devolver pros governadores e para os prefeitos o que cabia para cada um, depois de tirar sua parte. Isso me assustou.


O Dr. Tales disse que ninguém precisa ficar preocupado com isso porque já está sendo montado um gigantesco banco de dados e sistema de computação que faria todo trabalho e as empresas poderiam usar a plataforma e o programa de computador do Comitê para mandar as informações.


Seu Joaquim se manifestou descrente dizendo que o que ele ouviu no almoço é que as empresas vão ter que ter um tal de “código de barras” e um “leitor ótico” no Caixa para fazer as notas fiscais e que o comércio vendeu tem que pagar o imposto na hora e que o dinheiro vai direto para Brasília, nem passa nas mãos do governador ou do prefeito.


Como é que eu vou montar tudo isso? Comprar computador, caixa registradora com a tal leitora ótica e imprimir uma nota fiscal que parece um jornal, de tantas informações que tem?

Aonde eu vou arrumar um técnico para trabalhar no computador? Mandar vir da Capital? Como eu vou fazer comas cadernetas que os clientes pagam a cada 15 ou 30 dias? Será que quem fez isso conhece o Brasil ou trouxe das europas? E donde não tem Internet?


O Dr. Tales disse que ele não participou nessa proposta, que ele apenas está explicando como vai funcionar, mas que tinha certeza que era um sistema mais moderno do que os do resto do mundo, pois tinha coisas que os outros países não quiseram usar. O Sr. pode ficar tranquilo seu Joaquim. Disse que, no entanto, seriam usados outros sistemas simplificados para estabelecimentos menores ou onde não tem condições de internet.


Quer dizer que primeiro vocês complicam para depois simplificar?


O Prefeito interveio pedindo para seu Joaquim ter paciência e deixar outro agora perguntar. Que pediu a palavra foi seu Arlindo, gerente do Banco.


Escutei o Dr. mencionar que os Bancos também vão pagar esse tal IBS e a CBS, é verdade? Justo agora que estava tão tranquilo.


Dr. Tales então explicou que os bancos vão pagar o imposto, mas vão aproveitar os créditos das empresas e, por isso, não vai aumentar os juros para as empresas. Para as pessoas pode aumentar e, também paras o SIMPLES porque o crédito dele é muito baixo.


Seu Arlindo disse que vai se aposentar porque não quer perder amigos aumentando juros. Além disso o Banco está fechando muitas agências pelo Brasil e a de Sucupira, como é deficitária, provavelmente vai ser fechada.


Seu Nagib, o senhor com seu metro de 80 centímetros, não tem nenhuma pergunta, fala Odorico? Como o senhor vai fazer quando vender pros fazendeiro que só pagam depois da colheita?


Seu Nagib fala que vai continuar fazendo como agora, anota tudo durante os dois ou três meses enquanto os homens plantam e quando receber acerto minha conta com o Banco.


Se não der mais para fazer isso fecho a loja e vou pro Líbano conhecer meu neto e acompanhar o crescimento dele, porque não pude acompanhar o do meu filho porque trabalhando de mascate não tinha tempo.


A última pergunta quem quer fazer?


Dr. Esculápio o médico da cidade, por favor.


Dr. Tales, como ficam os médicos? Ouvi dizer que vamos pagar esses dois impostos e fazer a escrituração deles?


Os médicos não podem reclamar porque eles estão entre os privilegiados que vão ter alíquota menor, embora maior do que o que pagam hoje, mas se vocês forem empresa vão transferir crédito, então a empresa para os que vocês trabalham não vai sentir o aumento que vocês fizerem. Para as pessoas físicas vão ter que aumentar o preço ou diminuir o lucro, disse Dr. Tales.


Dr. Esculápio respondeu que a Santa Casa não paga imposto e que não tem como aceitar aumento do preço. Como é que fica? Como somos dois médicos, se houver aumento, é provável que ela fique com um só, que não vai dar conta de tudo. Vai ser um problema para o Prefeito.


Odorico agradece ao Dr. Tales sua participação e a todos os empresários presentes e diz que a conclusão dessa reunião para ele é a de que Sucupira não deve participar dessa Reforma e que vai entrar na Justiça, pois o Dr. Sócrates disse que ela retira autonomia do Prefeito e do Governador que fica subordinado ao tal Comitê Digestor. Obrigado a todos, está encerrada a reunião.


Crédito imagens: Freepik e Canva.

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