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“Sinto Vergonha de Mim” de Rui Barbosa

  • Foto do escritor: Marcel Solimeo
    Marcel Solimeo
  • 18 de jun.
  • 2 min de leitura

Sinto vergonha de mim

Por ter sido educador de parte desse povo

Por ter batalhado sempre pela justiça

Por compactuar com a honestidade

Por primar pela verdade

E por ver este povo já chamado varonil

Enveredar pelo caminho da desonra

Sinto vergonha de mim

Por ter feito parte de uma era que lutou pela democracia

Pela liberdade de ser e ter que entregar aos meus filhos

Simples e abominavelmente a derrota das virtudes pelos vícios

A ausência da sensatez no julgamento da verdade

A negligência com a família, célula-mater da sociedade

A demasiada preocupação com o eu, feliz a qualquer custo

Buscando a tal felicidade em caminhos eivados

De desrespeito para com o seu próximo

Tenho vergonha de mim

Pela passividade em ouvir sem despejar meu verbo

Há tantas desculpas ditadas pelo orgulho e vaidade

Para reconhecer um erro cometido

Há tantos floreios para justificar atos criminosos

Há tanta relutância em esquecer a antiga posição

De sempre contestar, voltar atrás e mudar o futuro

Tenho vergonha de mim

Pois faço parte de um povo que não reconheço

Enveredando por caminhos que eu não quero percorrer

Eu tenho vergonha da minha impotência

Da minha falta de garra, das minhas desilusões e do meu cansaço

Não tenho pra onde ir

Pois amo, amo este meu chão

Vibro ao ouvir meu hino

E jamais usei a minha bandeira para enxugar o meu suor

Ou enrolar meu corpo na pecaminosa manifestação de nacionalidade

Ao lado da vergonha de mim

Tenho pena, tanta pena, de ti, povo brasileiro

De tanto ver triunfar as nulidades

De tanto ver prosperar a desonra

De tanto ver crescer a injustiça

De tanto ver agigantarem-se os poderes nas mãos dos maus

O homem chega a desanimar da virtude

A rir-se da honra

A ter vergonha de ser honesto

 
 
 

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